quarta-feira, 20 de junho de 2012

Início da carta – apresentação e saudação – 1.1-5


DOMINGO, 19 DE JUNHO DE 2011


Como em outras cartas, Paulo inicia com a apresentação, a identificação dos destinatários e a saudação. Obviamente há variações que se devem aos propósitos específicos da missiva.

Em Gálatas, Paulo se identifica como “apóstolo”. Ele já utilizou o termo nas cartas aos Romanos (1.1, 5), aos Coríntios (1 Co 1.1; 2 Co 1.1), aos Efésios (1.1), aos Colossenses (1.1), a Timóteo (1 Tm 1.1; 2 Tm 1.1) e a Tito (Tt 1.1). Ou seja, em quase todos os seus escritos ele se apresenta, fundamentalmente, como apóstolo. 
Mas o contexto aqui é diferente. De modo geral ele é apóstolo “pela vontade de Deus”, assim como em Gálatas, que alternativamente apresenta Deus e Jesus Cristo como a origem do apostolado. Entretanto, a ênfase recai em outro elemento – o negativo. Ele é apóstolo “não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum”. Paulo deseja deixar claro que seu apostolado não se origina (“não da parte de...”) de qualquer ser humano, nem é mediado (“nem por intermédio...”) por qualquer um deles. 

Sua autoridade apostólica, dessa forma, fica vigorosamente desconectada de qualquer vínculo de dependência com quem quer que seja. Em 1.12-17 ele reafirmará (o que os gálatas já deveriam saber) a origem de seu chamamento para ser apóstolo, declarando novamente não depender de homens, inclusive daqueles que eram apóstolos antes dele (1.17).

Em seu comentário a Gálatas (Word Biblical Commentary, v. 41), Richard Longenecker destaca dois aspectos da abordagem negativa da apresentação de Paulo. O primeiro é o lado defensivo da resposta, identificado pelo comentarista como “apologético”, e o segundo é o aspecto agressivo, nomeado como “polêmico” por Longenecker. Os dois elementos permitem concluir que a introdução da carta é diferenciada das demais, evidenciando uma situação conflituosa. 

Se negativamente Paulo define seu apostolado como sem vínculos com qualquer ser humano, positivamente ele provém de Jesus Cristo e de Deus. Na realidade, ficar mais claro dizer que Deus e Jesus Cristo são os mediadores de seu apostolado: “por Jesus Cristo e por Deus Pai” no sentido de “através deles”. É por intermédio deles que Paulo se torna um apóstolo e vive como tal. Deve-se notar que o contraste é apresentado de modo intenso mediante a conjunção adversativa grega allá. Para Paulo, há uma diferença praticamente irreconciliável entre aquilo que os homens poderiam fazer e aquilo que Deus faz por ele.

No v. 2 Paulo menciona que a carta provém também de “todos os irmãos meus companheiros”, possivelmente como indicação de que não está só no ato da escrita da carta, como também não está desacompanhado na apresentação dos argumentos que se seguirão. Em um contexto de controvérsia e disputa, isso parece ser importante para o apóstolo.

No v. 3 é apresentada a saudação tradicional nas cartas paulinas: “graça a vós outros e paz [...]”, seguida pelo complemento da ação de Jesus Cristo: “[...] o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso [...]. Como lembra Hans Dieter Betz (Galatians, série Hermeneia, p. 41), se no v. 1 Paulo menciona o que Deus fez por Jesus, agora ele indica o que Jesus fez por nós. Betz sugere que nessa expressão Paulo une duas tradições cristãs primitivas, uma cristológica, relativa à entrega de Jesus, e outra soteriológica, referente ao objetivo de tal entrega: a salvação dos cristãos. A pergunta neste momento é pela razão para Paulo enfatizar a entrega de Jesus pelos “pecados” dos cristãos e para “desarraigá-los deste mundo perverso”. A resposta surgirá no decorrer da carta.

Finalizando, a introdução paulina permite antever uma postura crítica do apóstolo diante dos cristãos gálatas. Para que isso aconteça, ele precisa ter autonomia. Por isso, já no início, resolve estrategicamente afastar-se deles e fazer uso de sua autoridade apostólica. Se ele conseguirá reatar a proximidade cristã com aqueles cristãos, somente a leitura do texto é que dirá.

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