quarta-feira, 20 de junho de 2012

Teoria Literária e o livro de Rute


SEGUNDA-FEIRA, 7 DE FEVEREIRO DE 2011


Após a apresentação semiótica do Júlio, trago algumas informações a respeito da Teoria Literária e de sua aplicação à análise de textos bíblicos, de modo particular no estudo do livro de Rute.

Antes, certas especificações a respeito do que não pretendemos ou pelo menos não será central para as discussões sobre Rute neste blog.

Não queremos discutir o livro a partir de uma perspectiva historicista. 

Embora o livro se vincule a determinado momento da história de Israel, apontando para indivíduos específicos, nosso objetivo não é resgatar esse momento histórico a partir do texto bíblico. 

Isso porque, embora o texto aponte para a história e se construa a partir dela, ele a transcende. Em outras palavras, ao apresentar determinados acontecimentos o texto bíblico é trabalhado para produzir certo sentido e objetivo junto aos leitores/ouvintes.

Portanto, a história não é negada nem esquecida, mas colocada como um "meio" para que determinados objetivos retóricos se concretizem.

Também não queremos discutir o livro de Rute em uma perspectiva crítica. 

Isso significa que não é nosso objetivo vasculhar detalhes históricos e arqueológicos, a partir de uma perspectiva crítica, que nos levem a confirmar a maior veracidade ou não do texto em relação a seu contexto histórico. Não que essa abordagem seja equivocada, mas ela se presta melhor ao trabalho do historiador de Israel do que do intérprete de textos.

Do que foi colocado acima surgem questões que demandam a explicitação do uso da Teoria Literária.

Na realidade, será usada uma vertente dela, a Teoria Narrativa, visto que o livro de Rute é um texto narrativo, no primeiro e básico sentido utilizado pelo Júlio em seu post.

Falar em narrativa significa falar de um texto construído com elementos como personagens, cenários, tempo(s), enredo e narrador. O narrador é o elemento central, visto que ele trabalha a partir dos personagens, cenários, tempo(s) para criar o enredo (melhor do que o termo "história"). O modo como o faz é que dá o tom e a especificação de seu texto em relação aoutros. 

Falar em narrativa significa também reconhecer que um autor escreve um texto, incluindo os bíblicos, com objetivos específicos. Ele não escreve (e a escrita era algo difícil e caro nos tempos de Israel) apenas por escrever. Utilizando uma terminologia hermenêutica/teológica, o autor possui um "querigma" (mensagem) a ser proclamada. E, para tanto, ele faz uso dos elementos teóricos já apresentados. 

Uma questão ligada ao estudo de textos antigos, como o livro de Rute, é a pergunta se os autores naqueles períodos longuínquos tinham conhecimento de Teoria Literária. 

A pergunta está um pouco anacrônica. Como tal, obviamente eles não a conheciam. Mas a perspectiva pela qual pensamos uma teoria deve ser alterada. Uma teoria pode ser uma sistematização que nos ajude a pensar algo, ou a explicitação de como pensamos algo. Nos textos narrativos da bíblica aplica-se o segundo conceito. Compor uma história usando personagens, lugares, tempos em que eles ocorrem, e escolhendo uma voz para contá-la é algo que acompanha o ser humano em sua história. A Teoria Literária apenas os especifica didaticamente e procura explorá-los em seus limites.

Pensando na aplicabilidade em Rute, devemos nos perguntar: Quem conta a história? Ou seja, quem é o narrador? Como ele narra? 

Quais são os personagens? Quem ou quais são os personagens centrais? Quais os secundários? Como eles contribuem para que a história progrida?

Quais sãos os cenários? Onde o enredo se desenvolve? Há mudança de cenários? Isso é relevante?

Em que período a história é situada? Isso é importante? Há mudança de tempo?

Por fim, como o enredo é construído a partir dos componentes citados anteriormente?

Essas são perguntas básicas que nos guiarão no estudo de Rute e a partir das quais o livro já pode ser pensado.

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