quarta-feira, 20 de junho de 2012

Paulo, chamado e evangelho – Gl 1.6-24


TERÇA-FEIRA, 28 DE JUNHO DE 2011


No primeiro bloco da carta, Paulo se apresenta de modo resumido. Agora, ele expande esse elemento no contexto da discussão do “evangelho”. 

A conexão se estabelece entre as primeiras palavras, em que ele fez questão de afirmar a independência de seu apostolado, e a introdução categórica do “evangelho que tem pregado” (v. 8-9, 11). Portanto, apostolado e evangelho estão em relação de apoio neste bloco.

O termo “evangelho” é utilizado na primeira parte (v. 6, 7, 8, 9, 11). Na segunda, por outro lado, temos os termos “revelação” (v. 12), “ao que me separou” (v. 15), “apóstolos antes de mim” (v. 17), configurando seu chamado apostólico. Paulo discutirá o evangelho a partir de sua condição de apóstolo de Jesus Cristo.

Como disse anteriormente, logo depois da apresentação Paulo normalmente escreve uma ação de graças onde apresenta pontos de contato com seus leitores que o motivam a agradecer a Deus. Em Gálatas tal elemento está ausente e ele inicia com afirmações contundentes e agressivas em torno do evangelho. Paulo os acusa de estarem aderindo, ou melhor, “desertando” (grego metatithemi) de Deus para “outro evangelho” (v. 6). Mais do que isso. Expressa admiração pela rapidez com que isso está acontecendo. Esse evangelho é também configurado como um evangelho que vai além daquele que Paulo tem pregado (v. 8). E é uma perversão do evangelho de Cristo (v. 7). Temos, portanto, uma oposição: um outro evangelho introduzido por elementos não especificados e aceito pelos gálatas x evangelho de Paulo que se identifica com o evangelho de Cristo. 

É importante perceber que o tempo verbal utilizado nos versículos 6 a 9 é o presente. Em outras palavras, Paulo fala de algo que está em processo, e que, portanto, tem esperanças de alterar.

Tais elementos permitem reconhecer tensões presentes no cristianismo iniciante e que não são periféricas. Pelo contrário, são centrais a ponto de determinarem um cristianismo verdadeiro e outro falso. Em torno do evangelho de Cristo surge uma disputa. Paulo, afirmando-se como aquele que é seu detentor e pregador, e os indivíduos que pregam aos gálatas e que, certamente, também afirmam ser seu evangelho aquele que Jesus Cristo trouxe aos seres humanos.

Paulo é contundente com aqueles que têm pregado o outro evangelho. Ele os considera “anátemas”, ou seja, malditos (v. 8-9). Outras característica que pode ser identificada nesses pregadores a partir do discurso de Paulo é que, em oposição ao que o apóstolo afirma sobre si mesmo, eles procuram “agradar aos homens” (v. 10). Paulo percebe o perigo da pregação desses indivíduos, pois ela é atraente e convidativa. 

A partir do v. 11 Paulo apresenta seu chamado apostólico como o contexto que valida seu próprio evangelho. Primeiro, ele não é “segundo homens” (v. 11), ecoando o que já dissera em 1.1. Em seguida, uma descrição de seu chamado. O evangelho chegou a ele mediante “revelação de Jesus Cristo” (v. 12). O que confirma tal revelação? Seu histórico dentro do judaísmo. Em segundo lugar, ele destaca a obediência à revelação (v. 16-17). Tem consciência do chamado para os gentios e, uma vez que o recebeu, não consultou homem nenhum, nem mesmo os apóstolos em Jerusalém, mas voltou para Damasco. 

Somente três anos depois que subiu a Jerusalém (v. 18). Esteve com os apóstolos Pedro e Tiago. Nada além disso é dito por Paulo. Em seguida dirigiu-se para as regiões de Síria e da Cilícia (v. 21). E conclui afirmando que as igrejas da Judeia não o conheciam pessoalmente, mas comentavam o fato de que aquele que os perseguiu agora pregava a mesma fé que eles professavam (v. 23).

Concluo com algumas reflexões.

As batalhas introduzidas por Paulo nesta carta não são novidade no decorrer da história da igreja e nem no contexto em que vivemos no Brasil. Aqui também temos inúmeros líderes professando seus próprios evangelhos e detratando os demais. Quem está correto? Qual evangelho é o verdadeiro? Questão complexa e de difícil ou impossível resposta. 

Podemos dizer como Paulo: que a definição se dá a partir da revelação que esses homens receberam? Penso que não. Esse critério se perdeu depois dos tempos apostólicos. Não podemos mais nos justificar a partir de um pretenso apostolado recebido. Somos todos apóstolos no sentido amplo do termo (o termo grego significa “enviado”). Tal fato nos coloca todos no mesmo plano. Todos fomos chamados, recebemos a revelação de Jesus Cristo em nossas vidas. 

Qual o critério de definição para outorgar o evangelho de um e não o de outro? Um primeiro está na relação do evangelho com seus ouvintes. Aquele que o prega procura a aprovação dos homens? Centra sua pregação na vontade daqueles que o ouvem? Se sim, certamente esse evangelho não é o de Cristo.

Outro critério é o histórico de vida. Paulo baseia-se nele. Gasta tempo ao descrever sua experiência de vida, passando de perseguidor do evangelho para pregador do evangelho. Essa experiência é evocada pelo apóstolo como fator de julgamento entre ele e os demais pregadores. 

Não que isso signifique que todos os líderes religiosos precisam ter um histórico de vida depravada seguida por uma conversão. Há muitos que são filhos de cristãos e cresceram na igreja. Mas é necessário, e nisso não pode haver transigência, que exista a evidência de um preço pago. E que ele seja apresentado como validação para o ministério.

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